O Brasil está prestes a dar um passo importante no combate ao HIV. Com mais de 1 milhão de pessoas vivendo com o vírus e 46,5 mil novos casos registrados em 2023, o país vê na PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) injetável à base de cabotegravir uma ferramenta promissora para reduzir drasticamente a taxa de novas infecções. Aprovada pela Anvisa em 2023, a versão injetável já demonstra superioridade em relação à PrEP oral tradicional, aumentando a eficácia e a adesão ao tratamento.
A PrEP é uma estratégia preventiva voltada a pessoas que não vivem com HIV, mas estão em maior risco de exposição. Entre os perfis mais indicados para seu uso estão pessoas que não usam camisinha regularmente, fazem uso repetido da PEP (profilaxia pós-exposição), possuem histórico de infecções sexualmente transmissíveis ou praticam sexo em contextos de vulnerabilidade social, como troca por moradia ou drogas. Há também destaque para o chemsex — prática sexual sob efeito de drogas — como fator de risco adicional.
Enquanto o SUS oferece atualmente a PrEP oral, composta pelos antirretrovirais tenofovir e entricitabina em um comprimido diário, a nova alternativa injetável com cabotegravir promete facilitar o regime. Com aplicação bimestral após duas doses iniciais, o tratamento tem o potencial de aumentar significativamente a adesão, especialmente entre jovens e populações em situação de vulnerabilidade, onde a rotina diária de medicamentos representa um desafio.
Estudos clínicos de grande escala — como os HPTN 083 e HPTN 084 — foram decisivos para comprovar a eficácia do cabotegravir. Com mais de 7.700 participantes em 13 países, inclusive no Brasil, os testes foram encerrados antecipadamente após os resultados mostrarem redução de até 90% no risco de infecção em comparação com a PrEP oral. Nenhum participante contraiu HIV enquanto usava a injeção corretamente.
O impacto da possível incorporação da PrEP injetável ao SUS é expressivo. Projeções da farmacêutica GSK, em parceria com a ViiV Healthcare, indicam que até 385 mil novos casos de HIV podem ser evitados nos próximos 10 anos. Além disso, a economia potencial para os cofres públicos com custos de tratamento pode chegar a R$ 14 bilhões no mesmo período.
A expectativa é que a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) avalie positivamente a inclusão da nova terapia até o final de 2025. Na rede privada, a liberação da venda depende ainda da definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Enquanto isso, a PrEP oral continua sendo oferecida gratuitamente em diversas unidades de saúde, como o CEDAP, Instituto Couto Maia e ambulatórios especializados em Salvador.
O avanço da PrEP injetável representa uma nova era na prevenção ao HIV no Brasil — mais prática, eficaz e promissora para conter a epidemia e proteger as populações mais vulneráveis.
Por Redação